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3 anos de Suíça

Hoje faz 3 anos que chegamos na Suíça. Desde então, tanta coisa já mudou!!!

Percebo que mudei bastante também. Além de relembrar tudo que já passei aqui, vejo pelos posts como minha cabeça já não é mais a mesma. No início tudo é novidade, tudo é diferente, a gente se espanta e se surpreende fácil.

Depois, a gente vai se acostumando e as coisas começam a se tornar normais, a serem do dia a dia. Acabam ficando automáticas. E isso dificulta para escrever. Porque já não percebo tanto o que pode ser legal para contar.

Nestes anos eu sinto que mudei. Ainda não descobri se foi para melhor. A Paty (que escreve o blog comigo) disse que a Suíça me transformou numa Lady. Para quem já me conhecia antes, sabe que eu não tinha tanta paciência assim, que me irritava fácil com as coisas. E fazia uma rebelião por pouco. Digamos que eu era um pouco exagerava, vai!

E em outro país, uma das principais virtudes que a gente espera de alguém e desenvolve em si mesmo é a paciência. Pelo menos para mim foi o que aconteceu. É que quando chegamos num lugar diferente, com língua diferente (e ainda sem saber falar a dita cuja) o negócio é mais embaixo. Não falo isso para pensarem que me sinto melhor que as pessoas que moram no Brasil. De jeito nenhum! O que me refiro é sobre o quanto dependemos que outras pessoas tenham calma em nos explicar algo, em nos entender e em nos ajudar, quando não falamos a mesma língua que elas.

Tivemos um grande e fundamental apoio quando chegamos. Nossos amigos Adriana e Yales foram simplesmente demais. Nos deram informações sobre tudo e já pulamos uma etapa na fase de adaptação. Eles realmente valem ouro!!

Mas em certas situações é a gente dando a cara a tapa mesmo. Já fui intimada por uma caixa de mercado. Ela simplesmente insinuou que o cartão que eu estava usando (o de fidelidade do mercado) não era meu. Mas a forma como ela me perguntou isso foi como se eu estivesse fazendo um favor em comprar lá. Na hora só faltou eu pedir desculpas por ter nascido. Fui para casa pensando nisso e comecei a me revoltar. Eu deveria ter dito poucas e boas para ela. Mas além de não saber alemão na época, não veio nenhuma bendita palavra de inglês na cabeça. E isso sempre acontecia quando era pega de surpresa.

Ainda compro no mesmo mercado e vejo quase sempre esta criatura. Faz tempo que perdi o medo dela. Aliás, no mesmo dia que ela me intimou. Quem é o cliente hein???

E é bem a música do Rei: ” se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!!”. Já chorei muito! Já ri muito também!

Já chorei de raiva quando percebi que tinha mandado o cartão cheio de créditos da lavanderia para recarregar e estava com o zerado comigo. E a máquina de lavar cheia de roupa e água e sem créditos para continuar o programa de lavação. Resultado: eu tirando as roupas (lençol) encharcadas e torcendo no braço mesmo!!

E a cara de paisagem depois de treinar um diálogo em alemão com a atendente de farmácia e ela resolve perguntar algo que não estava no script. Nossa, cansei de contar quantas vezes isso aconteceu. De chegar gaguejando em alemão e não entender a resposta da criatura. Nesta hora fica aquele silêncio e eu tentando pensar e deduzir o que será que a outra pessoa falou. Pausa…..daí volta a realidade, a pessoa te olhando e pensando: “então? pode ser?”. E a eterna resposta de quem não entendeu nada: “Ja!!”.

Com muitos estrangeiros morando aqui, fica fácil fazer amizades com indianos, sérvios, iranianos, vietnamitas, italianos….e o legal é conhecer a cultura deles também, mas principalmente a comida. Uma vez minha colega indiana levou um bolo na aula de alemão. Era de cenoura e eu achei aquilo o máximo. “Que legal, eles fazem bolo de cenoura também!!”, pensei. Na primeira mordida já senti o gosto fortíssimo de canela. Na verdade ela deveria ter dito que o bolo era de canela com cenoura e não só cenoura. E a minha filha pegou um pedaço, mordeu e cuspiu de volta. A sorte que a minha colega não estava olhando. Foi aí que eu, rapidamente, juntei o que minha filha não comeu e coloquei na boca. Ainda bem que eu tinha bastante água para tomar.

Já vi a educação suíça cair por terra quando um motorista de ônibus foi grosseiro com minha amiga. E isso sem ela ter culpa de nada!!! E eu, a mais pateta dos seres na terra, não disse uma palavra. Fiquei alí, pensando e paralisada: “Não, isto não está acontecendo!”. Agradecimentos a um rapaz que respondeu ao motorista a altura, e que também estava no ônibus e presenciou o fato!

Chorei muito e perdi meu chão quando a pediatra diagnosticou que minha filha estava com princípio de pneumonia. Este dia foi triste! Cheguei em casa e chorei muito abraçada nela!! Queria demais estar perto da minha mãe e poder receber carinho! Quem é mãe sabe que com a gente tudo pode acontecer, mas quando acontece com os nossos filhos, aí são outros quinhentos!!

Fora o período de adaptação dela na creche….momento onde eu aprendi a andar sem estar acompanhada de um carrinho de bebê! Só eu e minha bolsa!! Parecia sempre que faltava algo!! Na verdade faltava o meu bem mais precioso!!!

Ver as senhorinhas brincarem com a minha pequena nos ônibus, puxar conversa comigo….ver que elas se arrumavam muito melhor que eu para ir até ao centro da cidade. E com esta ajuda indireta delas, cuidar mais da minha aparência.

Esquecer o cartão de débito no mercado e depois voltar lá e ver que a moça do caixa não era mais a mesma. E o detalhe sórdido: O cartão estava no nome do meu marido, e que por sinal, eu não uso o sobrenome dele. Momento tenso!!!

Ou quando as pessoas perguntam de que cidade eu sou do Brasil. Mas daí elas acham que o país é só Rio, São Paulo, Recife, Fortaleza e Salvador (neste caso, eles criaram um novo nome: Salvador da Bahia. O que para mim é como dizer: subir para cima, plus a mais. Mas enfim….). Sempre digo que sou do sul do Brasil, onde faz frio com temperaturas negativas (nesta hora eles se espantam). Mas já penso seriamente em divulgar minha cidade e perguntar: “Mas você ainda não conhece Santa Maria – RS?”.

Sair irritada de dentro do carro depois de ver pelo retrovisor que uma suíça estava fazendo teatro de indignação que, por sua incompetência no voltante, não conseguia manobrar e sair do estacionamento e culpava o meu carro por isso. Nesta hora percebam como sou alta, pois ela fez toda a cena sem notar que eu estava sentada no banco do motorista. Abri a porta e já fui dizendo: “Qual o problema??”. Ela levou um susto e pediu toda doce para eu sair da minha vaga porque ela não conseguia manobrar. Pedi para ela esperar, porque eu estava aguardando meu marido e a gente logo sairia. Mas era verdade, foi logo mesmo!

Bem, quando disse que aprendi a ter paciência, isso não quis dizer que virei santa!! Até porque, tudo tem limite né?

Até mesmo quando um louco suíço senta na sua frente no trem e começa a puxar conversa. Mesmo eu fingindo que estava lendo um jornal, ele continuou a perguntar onde eu morava, de onde eu vinha…Mas foi só o abusado saber que eu era brasileira para dizer que ele conhecia outras brasileiras. E que todas elas trabalhavam em boate! (oi?). Ainda não aprendi como dizer em alemão: “vai te catar!”. Acho que isso facilita meu diálogo educado com este tipo de gente.

Já passei por momentos tristes e difíceis onde fui amparada por desconhecidos. E nestas horas a gente percebe que não há barreiras entre as pessoas. Que a dificuldade da língua não importa quando se tem um abraço que nos conforta! Aquela história de que “os gestos valem mais que mil palavras” se encaixa perfeitamente nesta situação.

Vi amigos queridos voltarem para o Brasil. Isso dá um vazio na gente! Despedidas são tão ruins. (aqui, um beijo para Adriana, Yales e Juju; Manolin; Neidi e Romeu).

Aprendi a aproveitar um dia de sol como se fosse o último da minha vida. E andar de bicicleta me deixa tão feliz e me faz recordar de bons momentos.

Passei da fase de depressão pós aula de alemão. E segunda lavei a alma quando contei sobre um livro que li e meu professor disse que estou falando bem. Foi como se tivesse ganhado nota 10 com estrelinhas sabe? Felicidade pura! De sair rindo sozinha pela rua!!!

Percebo minha mudança nas atitudes, nas coisas, na minha rotina. Penso diferente, mas não perdi minha essência. Sinto saudades da minha família e dos meus amigos. Morro de vontade de poder voltar a ir no salão fazer minhas unhas semanalmente e pintar meus cabelos uma vez por mês. Enquanto isso, vou escrevendo aqui e guardando para no futuro eu ler novamente e ver como pensava nesta fase da minha vida.

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20 comentários

  1. Ai ai ai…..Preta, adivinha se chorei…..????? Mas tbém dei risada relembrando algumas dessas coisas….. Linda vivência, linda história que está sendo construída. Mtas mudanças de pensamentos e atitudes, mas sempre a Ana Luiza….Para mim vc cresceu e mto….(por dentro tá????) kkkkkkkk Beijos mil para vcs.

  2. Simplesmente ma-ra-vi-lho-so esse post! Como se eu estivesse aí com você! Puro sentimento nas palavras, Ana.
    Sem maiores comentários, nota 10!!!

  3. Oi Ana , estou com o choro segurando, muito legal o que escreveu, vale e muito a pena viver tudo que se vive e com intensidade, colocando a boca no trombone ou não. Beijo bem grande, felicidades e sabe que um dia sentirá falta de tudo isto que está vivendo. Um beijo grande do fundo do coração.

  4. Ai Ana vc sempre mandando bem nos textos!Lindo de se ler :-)))…Uma mistura de várias sensações,Imagina eu aqui lendo e o pouco que aqui estou ,já vivi algumas situações semelhantes…as vezes da um desespero em pensar que nunca aprenderei esta melodia(Alemão) hahaha..lembrei-me de vc, em um dia de aula,a professora disse que o idioma,tem que ser falada com entonação, assim vira uma canção hahahah,porque eles insistem nisso ?kkkkkk…pracabá.com.de…Quero ver eu, daqui uns tempos rindo disso tudo ou chorando rsrsr…Bjks querida!

    1. oi Sheila….a gente aprende sim, aprende alemão e aprende muitas coisas com as situações que passamos por aqui. Não se desespere…quando achar que isso é impossível, pense que a gente sempre pode mais, que estamos sempre sendo postos a prova!!!! Não desanime, porque com certeza você vai rir muito desta fase!!!! Beijos

  5. Ana Luiza,

    Parabéns pelo texto.
    Você participou da minha viagem no final de 2011 ( Zurique, Berna, Lucerna, Genebra, Stein am Rhein e Schauffhausen), onde aprendi diversas curiosidades sobre a Suiça, que me ajudaram bastante.
    Fiquei com vontade de um dia retornar a este país maravilhoso.
    Agradeço muito a sua ajuda.

    1. Oi Mauricio,
      Fico muito feliz de ter ajudado
      vc e sua família com o roteiro. Espero que venham outras vezes e que possamos nos encontrar para nos conhecermos pessoalmente!!!

      Abraços,

  6. Ana…………… lindo post, pura emoção… realmente, fico imaginando vc aí, tão espivitada, tendo que aprender a ter calma, paciência… mas como vc mesma disse, um exercício, uma aprendizagem… com certeza, a Ana que voltará daí não será a mesma que foi, mas será um mulher mais forte e destemida, madura e preparada pra encarar a vida… Saudades amiga!!!!!!

  7. Oi, você não me conhece, meu nome é Christiane, sou cearense mais moro em São Paulo, trabalho e faço faculdade de eng. civil. Morro de vontade de sair do país, mesmo que por pouco tempo para estudar e viver essa experiência de morar fora. Muito bom seu blog. Adorei! Felicidades aí. bjs

    1. oi Chistiane, eu jurei que tinha respondido este teu comentário, mas algo aconteceu e minha resposta sumiu. Mas enfim…fico feliz por ter gostado do blog e dou a maior força de você ter uma experiência fora do Brasil. Dá trabalho, a gente sofre um pouco, mas é compensador.

      Beijos

  8. Oi Ana Luiza,
    achei seu blog no google e achei mto legal. Eu moro em Salvador e to pensando em fazer um curso em Lugano, daí quero antes pesquisar um pouco sobre a Suiça. Foi então q eu descobri o teu blog e quero saber se posso perguntar algumas coisas sobre a Suiça pra vc??

    Abraço

    Cati

  9. Oi Ana Luiza, sou de Macapá-Ap (extremo norte do Brasil). Gosto de pesquisar sobre os lugares, foi assim que encontrei seu blog. Já passei 3 meses de férias na França e pude sentir na pele, estar num país estrangeiro e não saber falar a língua. Em alguns momentos ri com parte de sua vivência aí. Muito legal o seu relato.Abraços.