Hoje o post foi feito pela Melissa Bonotto. Ela foi minha colega de faculdade em Santa Maria e não poderia deixar de convidá-la para escrever no blog. Para quem a conhece, sabe que ela é uma pessoa determinada, guerreira, crítica, super responsável e batalhadora. Como ela mora em Dublin há 4 anos, o primeiro post dela será sobre a crise que abalou a Irlanda. O texto é a cara dela: direto e sem rodeios.
Quando a Irlanda entrou na comunidade européia, em 1984, era considerada um dos países mais pobres do bloco. Uma soma de fatores, incluindo o poder do bloco e o massivo investimento de empresas americanas (muitas delas dirigidas por irlandeses que imigraram para escapar da pobreza) fizeram com que o TIGER CELTIC despontasse como uma das economias mais promissoras do bloco. O final da década de 90 e o início do milênio deram à Irlanda o status de uma das capitais com o maior custo de vida, mas também, o segundo maior salário mínimo da União Européia.
Foram anos de muita euforia econômica. Os irlandeses, que no decorrer da história, sempre viveram com dificuldades e limitações, tiveram a chance de aproveitar as delícias de viver num país rico! Muitas empresas se estabeleceram na Irlanda e a necessidade de mão de obra abriu às portas para os imigrantes! Desde o leste europeu, sempre em busca de condições melhores do que os seus países devastados pela União Soviética podem oferecer, passando por economias estagnadas como Itália, Espanha e Portugal, até contratos de trabalho com os chineses e a tolerância a muitos ilegais africanos e asiáticos, tornaram Dublin uma cidade vibrante e cosmopolita. E, é claro, como estamos em todos os cantos do mundo, a facilidade de visto para brasileiros colaborou para a consolidação das raízes nas suas comunidades por aqui. São muitos, muitos, muitos brasileiros espalhados na Ilha Esmeralda!
Mas o que aconteceu com o Tigre Celta? Infelizmente, o comentário geral é que “não existe nada como os bancos irlandeses”. A crise econômica que os EUA iniciou e promulgou há quase 2 anos atrás, atingiu diretamente várias economias européias. Ao mesmo tempo que o Brasil foi um dos primeiros países a superar a crise, ou até mesmo assumir nem ter sofrido com ela, a Irlanda não resistiu. Os bancos irlandeses devem 90 bilhões de euros, especialmente, a bancos alemães e franceses. A fragilidade econômica trouxe uma grande instabilidade política e está provocando o empobrecimento dos cidadãos comuns.
“O Boom da Construção civil” onde a população estava enlouquecida pagando financiamentos altíssimos e o volume de construções mudou o cenário do país, simplesmente despencou. Comentam que um pedreiro na Irlanda chegou a ganhar 40 euros a hora. De repente, existem bairros inteiros inacabados, inadimplência dos financiamentos e milhares desempregados.
A questão primordial é a Irlanda ter virado dependente do FMI, no mesmo ano que a o Brasil passou a ser credor do FMI. Com um empréstimo bilionário, a população está pedindo novas eleições e dizem que mais de 400 mil irlandeses já deixaram o país. E agora? Será que a Irlanda sobreviverá as exigências do FMI e da UE ou empobrecerá como a Espanha, Portugal e Grécia? Bom, pelo menos, estes países têm um clima mediterrâneo, enquanto a Irlanda viveu uma das nevascas históricas no Natal.