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Amando e odiando Buenos Aires

Hoje temos mais uma pessoa contando sobre a vida fora do Brasil. A Laura foi minha colega na faculdade, em Santa Maria e morou em Buenos Aires por 4 anos. Convidei ela para que pudesse dizer o que fazemos quando voltamos para o Brasil. Como é a adaptação novamente. É o contrário do que tem acontecido conosco. Falamos tanto em sair do país e como é chegar em outro, que esquecemos que, para quem volta, também precisamos passar por tudo isso novamente. Mas, como ela é doida pela Argentina, não aguentou e contou um pouco da vida por lá. Ótimo para nós, que aproveitamos para conhecer um pouco de Buenos Aires.

Enquanto todos por aqui são praticamente recém-chegados a terras estrangeiras, eu estou de volta ao Brasil depois de 4 felizes anos em Buenos Aires, Argentina. Tinha combinado com a Ana que minha primeira participação aqui seria para falar do retorno, mas aí, depois de 18 meses, voltei à Argentina para umas férias e a nostalgia me obrigou a falar um pouco dessa cidade que aprendi, como todo portenho, a amar e odiar.

Avenida Libertador, no meu antigo Bairro, Palermo.

Amar a noite que começa e termina tarde. Mesmo no forte do inverno, quando às 17h o sol já está sumindo, é normal escutar um “boa tarde” se ainda não tiver passado das 20h. Porque aí vem a siesta (vocês achavam que a siesta era ao meio-dia, é?) e depois o jantar, que é longo e ainda pode terminar em um café ou bar. Balada no fim-de-semana? Só depois das 3h.

Café próximo ao Alto Palermo, em uma madrugada qualquer. Atenção ao carrinho de bebê ao fundo (e daí que são 3h da manhã?)

Odiar os dias curtos no inverno e o frio rigoroso por, no mínimo, quatro meses do ano.

Amar os clubes de jazz e (sim) bossa nova; as quintas de filarmônica no Colon; a temporada de Ópera a precinhos amigos. Os festivais de rock no Club Ciudad no segundo semestre. As Gallery Nights (galerias de arte abertas até a madrugada uma vez por mês) e livrarias até altas horas. As coleções privadas de arte abertas ao público no Malba ou Museo Fortabat.

A famosa livraria El Ateneo, cujo prédio foi construído para abrigar um teatro no fim do século XIX.

Odiar quase qualquer banda de rock ou pop local que, assim como o tango e os cantores românticos, só sabem fazer apologia à depressão.

Amar poder discutir à toa e falar umas verdades quando necessário, esporte nacional mais popular que o futebol. E não precisa se preocupar que nenhuma cara amarrada ou discordância veemente será tomada como ofensa pessoal. Isso passa logo logo – antes de terminar o café.

Odiar todo e qualquer protesto que impede as pessoas de ir e vir no centro da cidade TODOS os dias. Em outra oportunidade, acabarei com o mito dos argentinos politizados e conscientes. Eles gostam tanto de reclamar quanto a gente gosta de fazer piada com coisa séria; é só isso.

Amar os milhares cafés, bares e restaurantes. As confeitarias freqüentadas por senhorinhas de casaco de pele e sombra azul. Os bodegones de espanhóis bigodudos, garçons de gravata borboleta e refeições abundantes. A comida “de autor” e os garçons/garçonetes bonitinhos e pedantes de Palermo Soho. As tradicionais parrillas de esquina, as casas de empanadas, as padarias das tiazinhas russas do Once, longas horas e intermináveis conversas nas mesas nos terraços e calçadas…

 

Só na Argentina: Bife de chorizo de 750gr. e Malbec.

And last, but not least, o ritmo “devagar sem ser quase parando” das pessoas em uma cidade que nunca para. Paradoxal? Parece, mas não é. Ainda falarei mais sobre isso, entre outras razões, porque esse foi um forte argumento para que eu optasse morar na capital argentina. Novos desafios profissionais e acadêmicos eram fatores importantes mas, como a vida não é só isso, era imprescindível conciliar esses objetivos em um lugar bom para viver – e, se tem uma coisa que portenho entende, é de viver bem.

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0 comentários

  1. Ei, Laura, esqueceu de falar do futebol. Fala sério, não tem como AMAR o futebol da Argentina, não é? Como é torcer para o Brasil em plena Copa do Mundo na Argentina, meu Deus do Céééu? E o Dieguito?! Ainda bem que não desfilou pelado!!
    Beijo, Laura!

  2. Carolina, eu era muito fã de futebol mas, sinceramente, minha temporada lá serviu para eu deixar de gostar um pouco. E, ao contrário do que muitos podem pensar, uma boa parcela dos portenhos não é tão ligada em futebol, não.
    Quanto a passar uma Copa do Mundo por lá, aí sim, é beeem complicado…rsrsrs
    Mas tem fatos bem curiosos sobre o futebol de lá. Acho que daria um bom post no futuro.
    Bjo!

  3. Obrigada, Laura!!! Eu também não sou muito fã de futebol, mas Brasil x Argentina é muito legal!!! Mas depois nos conte um pouco, então, sobre sua experiência em Copa do Mundo no país dos nossos maiores rivais nos gramados!! Beijooo!