O post de hoje é da colaboradora Melissa Bonotto, que mora em Dublin. Ela já tinha escrito um post sobre a crise na Irlanda e agora conta o que aconteceu depois dela.
Talvez o fato de ter nascido em um país tropical, de proporções continentais e por ter vivido em crises por tantas décadas, nos deixou mais fortes. Considero os brasileiros muito mais criativos e espertos para superar a crise. Nós nascemos sem ter escolha: tivemos que aprender a nos defender, a batalhar, a lutar com unhas e dentes, de todas as formas, por tudo: educação, trabalho, condições dignas para nossas famílias. Quem nasceu num país rico, já nasceu com muito. E, talvez por isso, os desafio para superar a crise, são bem maiores.
É um princípio básico de finanças: não se gasta o que não se tem. E mais: quando se está endividado, uma das primeiras coisas a fazer, é cortar custos e, outra alternativa, é buscar mais receita. Assim está o governo irlandês. Com o objetivo de levantar receita, aumentou as taxas. E na intensão de cortar custos, está reduzindo e, em alguns casos cortando, os benefícios.
Agora vamos tentar entender um pouco das consequências de tudo isso na vida real das pessoas comuns. A população em geral teve seus salários afetados. Órgãos públicos tiveram seus salários reduzidos em até 30%. Muitos privados reduziram salários mas não reduziram horas. Muitos congelaram salários. O salário mínimo baixou. Todos estão pagando mais taxas e taxas especiais por causa da crise. Milhares perderam seus empregos. E como o país não tem muitas alternativas (acredito que nós temos mais diversidade econômica no Brazil), milhares estão migrando. Sair do país parece ser uma alternativa clara. Destinos de língua inglesa abrigam comunidades irlandesas inteiras: EUA, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Inglaterra (o que eles gostam menos). E, claro, como muitos imigrantes voltaram também, a gente começa a ver irlandeses assumindo postos que era quase impossívels alguns anos atrás: MC Donalds, restaurantes, cleaners… É consenso que quem se manteve no emprego, está bem. Pois apesar de ter perdido salário e estar pagando mais taxas, a crise também fez os preços baixarem: aluguel e comida por exemplo, então está mais barato viver na Irlanda, especialmente, em Dublin.
O corte dos benefícios é motivo de protesto e continuará sendo, principalmente, desta geração que cresceu tendo acesso a tudo. Pra nós, brasileiros, que crescemos sem nada, alguns cortes são considerados até necessários. Por exemplo, na Irlanda o seguro desemprego não tem limite de tempo. Ou seja, por mais que o governo tenha diminuído o valor, um desempregado fica recebendo o benefício por tempo indeterminado até arrumar outro emprego. Tem muito imigrante, que mesmo desemprego, não voltou pra casa, pois o poder aquisitivo do seguro desemprego na Irlanda é maior do que voltar pra faixa salarial do seu país (leste europeu por exemplo).
Outra polêmica é o benefício da mãe solteira. Para incentivar a mãe a passar tempo com a sua criança, mãe solteira na Irlanda, que trabalha até 20h por semana, ganha benefícios pra completar a renda e mais o apartamento do governo. Ou seja, todas as minhas colegas mãe solteiras na escolinha (e não são poucas) acabavam ganhando mais do que nós que trabalhávamos 39h na semana. E assim, segue a lista de benefícios que está sendo cortada: assistentes especiais nas escolas (uma assistante para cada criança com necessidades especiais), apartamentos para mendingos, etc. A agricultura na Comunidade Européia é subsidiada, então com certeza, vem cortes atingindo as famílias rurais também.
Crise é crise e não está sendo fácil. Mas quando a gente ouve noticiário, nunca vem claro o que realmente está sendo cortado. A crise baixou o poder aquisitivo das pesssoas e ainda é muito cedo pra citar todas as consequências. Por enquanto, apenas dá pra ver que um sistema de um país que parecia rico e que dava benefícios a todos, está sendo afetado. E no meio de tudo isso, só na sexta-feira ouvi duas vezes que o Brazil está sendo considerado um país rico… então é aguardar e ver onde está crise econômica nos levará, tanto na prosperidade do sul, quanto no empobrecimento do norte.
Pois é Aninha, e eu te digo que considero o brasileiro mesmo um povo muito especial, paga por tudo o que o governo deveria disponibilizar, por tamanhos impostos que pagamos (e este dinheiro que vai para meias, cuecas, etc…), ” levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima” !!!Não é qualquer país de terceiro mundo que consegue!!!Beijosss
Verdade Lu….realmente nós brasileiros somos o máximo. Passamos por poucas e boas diariamente, mas nunca deixamos de sorrir e de dar a volta por cima. Beijos,
Oi Ana, Tenho um amigona de infancia, chamada Marcia Bonotto, será que são parentes?
Oi Ana Lucia, quem sabe não são parentes mesmo né? Só sei que minha amiga Melissa é dos Bonotto de Lagoa Vermelha-RS.