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Discriminação entre crianças

Em muito se falou em preconceito na Suíça, quando a Oprah anunciou que tinha sido discriminada numa loja, em Zürich. Eu também já fui, quando dois suíços não deixaram nem eu marcar um horário de visita para entrar na casa que eles estavam alugando. Mas até aí você encara.  Ou você responde a altura, ou faz de conta que nada aconteceu. Porque você é adulto, sabe se defender, de certa forma entende que existem pessoas com a cabeça tão pequena e você agradece por não ser igual a elas.

Agora, quando uma mãe vê sua filha de 4 anos sofrer preconceito de outras crianças da mesma idade, isso machuca muito. Sim, se alguém pensa que esta situação constrangedora acontece somente entre adultos, infelizmente está enganado.

Quem conhece a Ana Julia sabe o quanto ela é sociável, dócil, carinhosa. Claro que apronta, como toda criança. Mas ela é tranquila no sentido de não ser agressiva. Ela não tem vergonha de chegar num grupo de crianças que ela não conhece e se apresentar, perguntar o nome e começar a brincar. Até então tudo bem, isso não era um problema. E nós achávamos que era até uma solução para que ela não ficasse isolada no meio de outras crianças.

Mas foi numa tarde, que eu estava com ela na pracinha aqui do condomínio, que eu vi o que custei a acreditar. Haviam muitas crianças brincando e lá foi a Ana Julia querer se juntar a eles. Mas um menino já foi direto e disse que ela não poderia brincar junto, porque não falava albanês. Junto com ele estavam mais duas meninas, todas da idade da minha filha. Sendo que elas são da turma da Ana Julia no jardim.

Como a Ana Julia é insistente (ou teimosa, ainda não sei) ela continuou com o grupo que acabou “fugindo” dela. Ok….eles saíram para outro lugar e ela ficou comigo. Depois apareceram mais 3 meninas de origem sérvia (duas delas também colegas da Ana Julia no jardim) e outra vez não deixaram ela se juntar para brincar. Tudo por causa da língua. E mesmo meu marido ter perguntado se a nossa filha poderia brincar junto com elas e elas dizerem que sim, foi só o tempo da gente virar de lado e elas falarem para a Ana Julia sair de perto delas.

Aquilo me cortou o coração. Porque se é comigo, eu aguento. Agora, com a minha filha me deixa realmente chateada. E eu parei para pensar o que será o futuro das crianças que excluíram a Ana Julia e dela também. Como é que pessoas tão pequenas já começam a separar o seu grupo de convívio assim, tão cedo. Eu sei e não posso ser hipócrita quando alguém prefere falar com uma pessoa que fala a mesma língua que você.  Eu também prefiro. Todo mundo prefere. Mas neste caso, as crianças falam alemão muito bem e se entende na escola em alemão também. E eu, sinceramente, achei que este tipo de “separação” viria lá pela adolescência. E não agora. Isso foi o que me chocou mais.

Essa situação toda me deixa profundamente triste, porque nunca tinha acontecido isso com ela. E para ela também foi um susto, uma situação inusitada.

Pois bem….o resultado desta tarde foi a Ana Julia chorando e pedindo para não ir mais na escola. E agora, ela só quer brincar em outras pracinhas que não seja esta daqui do condomínio. O que me deixa tranquila é que a minha menina se “encontrou” com uma coleguinha indiana, no jardim. A colega é um pouco tímida e por isso acaba não se envolvendo muito com as outras crianças. Foi aí que ela e a Ana Julia se “juntaram” e estão formando uma amizade bonita de se ver. Tanto que no aniversário da “nova amiga”, a Ana Julia era a única criança que não era indiana.

Já li que entre 4 e 6 anos a criança começa a formar o seu caráter. E a única coisa que eu sei é que, eu vou ensinar sempre para a minha filha que cor, religião, língua, credo não podem determinar se uma pessoa é “boa ou má”. Somente suas atitudes podem definir isso.

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21 comentários

  1. De queixo caído estou!! Não tenho filhos ainda, mas também acreditava que isso apenas acontecia na fase da adolescência!
    Criança é um ser ingênuo, não sabe distinguir o certo do errado… Certamente que esse tipo de comportamento é trazido de casa mesmo.
    Tenho opinião formada sobre o assunto, mas prefiro deixar de comentar aqui em público.
    Beijo, prima; vindo para o Brasil agora no final do ano, vocês se sentirão abraçados pelo nosso povo.

  2. Ai Ana, até doeu o coracao agora… Logo com a Ana Julia, que parece ser uma crianca tao doce, tao meiguinha. Isso é o exemplo que essas criancas recebem de casa… Depois algumas nacionalidades se dizem discriminadas pelo mundo, quando eles mesmos fazem questao de segregar.
    Parabéns por educar sua pequena com tanta generosidade! =)

  3. Oi Preta dá para imaginar o que passastes, mas é certo que a criança repete o que vivencia em casa.Tenho certeza que com tua sabedoria soubestes explicar a situação para a tua pequena , e ela com toda a inocência das crianças logo vai superar. Beijos

    1. Ivanise….só quero que a Ana Julia continue com a sua inocência. Que ela entenda isso tudo só quando ficar maior e saber que este tipo de atitude não vale a pena.
      Beijos

  4. Triste né, mas ela vai crescer entendendo tudo isso, porque tu estas ensinando tudo isso para ela. Tenho certeza que o caráter dela já vai ser muito diferenciado dessas outras crianças, infelizmente essa experiência negativa hoje vai ser muito positiva para ela no futuro. Beijão

  5. Ana , criança qdo tira pra ser má ela é má mesmo… mas uma coisa nossas amadas tiram de letra , esquecem e sabem reverter a situação , no caso da Ana Julia, brincou com quem quem queria brincar com ela , simples assim… a gente se morde , fica magoada e fica se perguntando o porque disso… doe muito ver nossos doces se sentirem triste e incomodadas, sim por que elas não sabem compreender isto. Mas nós não podemos deixar elas perderem a sua essência, digo isto porque a minha também é espontânea faz amizade com quem for, e muitas vezes nem sabe o nome… Isto passa e com certeza para a amiga Indiana a Ana Julia é especial, como será em muitas outras situações… beijo pra vcs…

  6. Oi Ana Luiza, eu futuramente pretendo ir morar na Suiça com meu filho de 5 anos, mais o isolamento me preocupa muito, pois isso é uma realidade, mais graças a deus, sua filhinha encontro uma amizade a altura dela, e com certeza ela será uma grande pessoa, pois quem sente isso na pele jamais irá fazer com o próximo, força para você e para gatinha. bjs

  7. Ana Luiza, acabei de conhecer o blog por conta das fotos de Baden e vim parar neste post. Fico só imaginando, quase chorei… é muito duro mesmo ver o filho ser isolado e não poder fazer nada… E infelizmente, crianças as vezes são muito cruéis com as outras… mas sabe, o caráter da pessoa se forma a partir dessas experiências, e acredito que com esclarecimento dos pais e muito carinho, certamente sua pequena sempre será atenta e terá respeito ao próximo.

  8. Oi Ana, tudo com filho dói o dobro na gente. Eu cheguei na Suica faz 4 meses e estava morrendo de medo da integracão das criancas na escola. Felizmente até agora tudo bem. Eles estão aprendendo alemão agora, mas conseguiram fazer amizades. Por incrível que pareca notei mais resistência das criancas em Paris (passamos 2 meses lá antes de vir para cá), e nas pracas era um festival. Principalmente com criancas entre 4 e 5 anos, um menino chegou a bater no meu filho para ficar com a bola dele. E meus pequenos falam frances, mas sem fluência. Enfim, aqui a coisa esta bem melhor. Mas ele estão calejados.. rsss

    Outra coisa, crianca pequena brinca quando esta com vontade, e algumas vezes a brincadeira não comporta outra crianca, ainda mais se não falarem outra lingua. Pode ser o caso, não? Nem sempre é discriminacão. Mas em todo caso, pessoas do leste europeu passaram muito perrengue recentemente, e devem sofrer um baita discriminacão dos cidadãos dos países para onde eles tem ido. Talvez isso se reflita na atitude das criancas.

    Enfim, que estes sejam um casos isolados!! Grande abraco
    Malu

    1. olha Malu, não vi a situação como uma brincadeira que não comporta outra criança. Na hora só sei que não gostei e achei mesmo uma discriminação. Mas passou e não aconteceu mais.

      Fico feliz que seus filhos se integraram bem. Isso facilita bastante para nós também.

      Beijão,

  9. Oi Ana Luiza, estou amando ler o seu blog, mas realmente eu fiquei chocada com esta parte, não tenho filhos, mas tenho certeza que isso machuca a gente sim.
    Morei 1 ano e meio na Escócia e os adultos Poloneses, só gostavam de ficar entre eles, nunca se misturavam, então isso já vem de casa! Então imagina a educação dos filhos dessas crianças, muito triste!
    Mas fico feliz por sua filha que agora está com a amiga indiana!

    Muito sucesso para vocês!